GRAVIDEZ
PRECOCE
Ingenuidade
e 'pensamento mágico' são as principais causas da gravidez indesejada
Ricardo Lima/Folha Imagem
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O diretor do Departamento de Tocoginecologia do
Caism (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher), da Unicamp, João
Luiz Pinto e Silva, 55, que coordenou a primeira pesquisa na década de 80
e orienta a que está em andamento, diz que a ingenuidade e o
"pensamento mágico" das adolescentes, apesar da informação a
respeito dos anticoncepcionais, gera novos casos de gravidez precoce ou
indesejada.
Folha Online: Quais são os objetivos dessa nova pesquisa a respeito da
gravidez na adolescência?
Pinto e Silva: O objetivo é determinar, na atualidade, entre
grávidas adolescentes, mulheres de menos de 20 anos de idade, qual é o
conhecimento e quais são as atitudes, as práticas em relação ao uso de
anticoncepcionais. A gente parte do princípio de que grande parte dos
adolescentes tem gravidez não planejada, indesejada.
Folha Online: O senhor fez uma pesquisa semelhante em 1978?
Pinto e Silva: Naquela época fizemos uma avaliação entre gestantes
adolescentes, primigestas, que ficaram grávidas pela primeira vez, e
naquela época tínhamos como expectativa que a maior parte delas nunca
tinha ouvido falar em anticoncepcionais.
Tivemos uma grande surpresa ao constatar que 90% das
adolescentes grávidas conheciam pelo menos um anticoncepcional, a pílula.
Fazendo uma comparação entre as duas pesquisas, para o que aponta hoje a
conclusão?
Pinto e Silva: Naquela época eu imaginava que elas não tivessem
informação do uso de anticoncepcionais e de como evitar a gravidez. Elas
tinham a informação, mas não tinham a educação transformadora, a atitude.
O que vimos depois de passados muitos anos, é que mesmo depois de
abrir-se a discussão da sexualidade humana, com muito mais informação e
acesso, com escolas passando a ter programas de educação sexual e com
recursos para as pessoas buscarem essas informações, a situação continua
a mesma.
Folha Online: Ainda falta a atitude?
Pinto e Silva: As adolescentes ainda não assumiram a atitude que
faz a prática ser eficiente. Esse modelo chamamos de CAP (Conhecimento,
Atitude e Prática). O indivíduo tem uma informação, que gera uma atitude
-a de pôr em prática a informação.
Folha Online: Por que as adolescentes assumem, mas não praticam a
informação?
Pinto e Silva: Quando você pergunta por que ela não usa o
anticoncepcional, voltam os mesmos tipos de desculpas. Pelos dados
preliminares que temos da nova pesquisa, 25% das adolescentes dizem que
queriam ficar grávidas. As respostas ainda se repetem: "Eu achava
que isso não ia acontecer comigo".
Acredito que isso aconteça pelo próprio desconhecimento da fisiologia ou
pelo que chamamos de pensamento mágico da adolescentes. A dimensão
temporal, a atitude, não são racionalizadas. Fica uma coisa meio mágica.
Isso não vai acontecer comigo. Eu sou muito novinha...
Quando ela fala isso (muito novinha), está dizendo que para ela esse tipo
de coisa de ficar grávida numa relação só acontece com mulheres adultas.
E ela não se considera como tal.
Essa informação circula desde o início do uso do anticoncepcional e ela
não é derrubada. Hoje existe um número fantasticamente grande de
usuárias, mas isso não atende a necessidade da quantidade de gravidez
indesejada que existe por aí. É o medo de que aquilo faça mal. De
qualquer forma, para o adolescente adquirir o anticoncepcional tem ainda
um custo emocional...
http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/gravidez_precoce-entrevista.shtml
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